16 outubro, 2015

sou uma observadora

Todo dia me pego examinando discretamente as pessoas, dos pés a cabeça, coisa que não costumava fazer. Normalmente no Brasil eu ando tão rápido pensando nas tarefas do trabalho, questões pessoais, na festa do fim de semana ou na fofoca que preciso atualizar com minha irmã e amigas que as vezes nem reparo nas pessoas conhecidas que cruzavam meu caminho. Aqui eu olho o rosto das pessoas, observo os passos, as escolhas de roupas, o que eles carregam, e o jeito que se movimentam ao conversar com outras pessoas. Aqui eu observo. Tenho uma atitude mais passiva e até ouso dizer que muitas vezes sou introspectiva.


Coisas que eu escuto

Eu estou vivendo em uma comunidade que por anos foi fechada para o que vem do estrangeiro. Eu escuto pessoas falando russo o tempo inteiro, então meus ouvidos já se acostumaram com o som, com a intonação e até algumas palavras - mas esperança zero sobre aprender a língua. Aqui eu observo. Até mesmo as pessoas que falam inglês tendem a falar russo quando estou junto, para minha frustração. Por isso digo que me tornei uma pessoa introspectiva, pois muitas vezes não tenho "voz". Quando estou com as minhas alunas e colegas de trabalho russas, eu puxo assunto em inglês e elas respondem, mas logo voltam ao russo. Na mesa do restaurante, três professoram de inglês estavam falando em russo e eu no meio. Durou algo como 14-20 minutos e se eu não puxasse assunto, ou se eu fosse tímida - ou mesmo menos confidente com o inglês -  não sei o que seria da minha convivência aqui.  Portanto, o que me resta nas horas que canso de insistir em comunicação é... observar.

Coisas que vejo

Mas não é somente escutando a língua russa, eu também presto atenção em todo texto ao meu redor. Quando estou caminhando, eu tento ler as palavras nos outdoors e cartazes nas lojas. Sempre acho alguma palavra cognata, tanto com o inglês quanto com o português. Já estou craque na leitura do alfabeto cirílico. Nas ruas, as pessoas, principalmente homens, carregam sacolas de lojas. Sempre fiquei curiosa para saber o que eles tanto compram, pois vejo muito mais guris/homens carregando do que mulheres, Mas com o tempo entendi. Muitos dos meus alunos, principalmente aqueles que não tem idade escolar mais, levam os livros nessas sacolas de lojas (tipo da renner, ou da Mercamodas, sabe?) ao invés de terem uma bolsa ou mochila. Eles carregam a sacola pra lá e pra cá com os livros. Acho engraçado, ao mesmo tempo super inspirador. No Brasil duvido ver homens carregando livros em sacolas da renner. Outra coisa que voltei a fazer muito é observar a natureza. Sempre que visito um lugar novo eu olho para a arquitetura e admiro, por tenho como passatempo tentar desvendar a história por trás das construções. Mas aqui a cidade é tão pequena e meu caminho rotineiro é tão previsível que tenho observado muito a natureza, as árvores, flores e canteiros. E genteim, com isso, como vejo gatos nas ruas. Desde filhotinhos a adultos. Tem um que está todos os dias, no mesmo cantinho. É um encanto.

Coisas que tento fazer

Como estou sempre observando, eu já sei como me comportar no mercado, ônibus, táxi, algumas lojas de roupas e calçados. É fácil, qualquer pessoa que tem experiência de turista consegue aprender rapidinho. E eu tento: já tentei pedir pratos e bebidas em restaurantes e bar, já tentei pedir auxilio em supermercado. E fui bem sucedida. Digo tentei pois não usei a língua russa, mas a linguagem corporal conta muito e fui bem sucedida. Para meus dias não passarem tão batidos, eu procuro fazer coisas diferentes sempre que posso. E em algumas saídas eu tento me comunicar. Acho que o maior dom que podemos ter é a comunicação. Assim vivemos a vida mais intensamente, conhecendo pessoas, culturas, contextos diferentes. E quero continuar tentando. Minha próxima aventura será ir no cinema, onde os filmes são dublados. Porque não? Eu tentarei entender, quem sabe dá certo?

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