Eu sempre pensei que seria impossível para mim viver sem ter opções de roupas,
sapatos, esmaltes, bijuterias, bolsas e maquiagem. Na verdade, eu nunca fui
esse tipo de guria que super se maquia no dia-a-dia. No entanto, eu gostava de
poder escolher. Recentemente me deparei com um artigo sobre consumismo, o qual
levanta uma discussão sobre os prós e os contras de ser uma pessoa consumista
ou uma pessoa conservadora. Então eu percebi que eu realmente não sou mais esse tipo
de guria consumista como eu era antigamente.
Cinco anos atrás eu fiz a minha primeira
viagem para o outro lado do oceano. Saí do sul do Brasil para a Irlanda. A
aventura começou arrumando as malas! Eu deveria fazer caber minhas coisas em uma
mala 30 kg e uma mochila, como bagagem de mão. Acontece que eu tinha que
escolher as peças importantes do meu guarda-roupa, sendo que eu costumava ter
uma variedade delas. Eu tive que escolher cuidadosamente aqueles jeans que
eu considerava os mais básicos, casacos que poderiam ser usados em diferentes
épocas do ano, blusas para turismo e trabalho, um chapéu, uma toalha ... e
assim por diante. Então eu me vi deixando de lado roupas e acessórios
que eu adorava! Eu tive que deixá-los lá, no fundo do meu guarda-roupa apenas
esperando pelo meu retorno desta viagem. Maquiagem? Batom e rímel eram o meu
segredo. Acessórios? Dois ou três cintos, colar e alguns pares de brincos foram
suficientes. Dentre as muitas opções que eu tive que fazer, eu me vi um pouco
nostálgica, porque eu senti que eu precisaria deixar de lado muitos dos meus
pertences que eu usava semanalmente, que paguei caro! Eles ficariam descansando em paz no meu antigo apartamento.
Durante dois anos na Irlanda eu, é claro,
comprei mais e mais coisas. Como não comprar roupas, sapatos e acessórios
diferentes? E a escolha de Sofia aconteceu novamente no meu caminho de volta para
o Brasil: eu não tinha como pagar por mais bagagem extra, então eu deixei várias coisas
para trás. Eu doei e deixei para as minhas colegas de apartamento. Naquele
momento eu me senti diferente. Eu já não sentia falta dos meus pertences. Eu
era uma pessoa diferente desde então. Eu poderia facilmente viver com
menos.
Eu mudei de apartamento no ano passado,
e toda semana eu encontrava mais e mais roupas para doar. Boas peças, mas eu
sabia que não usaria mais. Acessórios que não estavam mais em uso, sapatos de
salto novinhos que eu não usava mais porque estavam fora de moda. Eu
mudei.
A minha segunda aventura começou este ano:
seis meses na Rússia! Aqui eu vim de novo com uma mala, dessa vez tamanho
médio, e bagagem de mão. No entanto, desta vez foi um pouco mais fácil para
fazer as malas. Eu não sofri tanto, foi mais rápido, e eu pensei mais
logicamente. Como eu ficaria durante na Europa três estações, eu
deveria ser muito prática e selecionar peças de roupas que eu poderia vestir no
verão, outono e inverno. Quase um sucesso! Mala de 20 kg contendo
apenas pertences básicos e estou sobrevivendo. Resumindo, as minhas escolhas
foram basicamente um par de saltos altos - sabe né, temos que estar preparadas
para todas as ocasiões -, sapato sem salto, sapatilha, pantufa e botas de
inverno. Algumas blusas, vestidos, calças jeans e calças leggings. Por outro
lado, existem alguns itens superficiais que eu não poderia viver sem: secador de
cabelo e meus pincéis de maquiagem. Os itens mais difíceis foram os casacos ...
Eu tive que levar um casaco grosso para o inverno e, como eu não queria ocupar
o meu precioso 20Kg, carreguei o casaco todo o tempo, do Brasil para a Europa.
Eu tinha duas semanas de férias antes de chegar à Rússia, então eu decidi ficar
alguns dias na Alemanha, na Polônia e na Lituânia. E lá eu me vi em crise com
aquela mala, indo para cima e para baixo pelas escadas das estações de metro e
de ônibus, entrando e saindo de ônibus - sempre com o meu casaco sobre a minha
mala. Era verão e eu podia sentir as pessoas olhando para mim sem entender a
situação: uma guria usando um vestido de verão, chinelinho havaianas, e
carregando um casaco grosso, enorme, de inverno ... Era engraçado apesar do
sufoco.
Então, aqui eu estou vivendo com 30kg de
pertences. E eu sei que não posso comprar mais nada porque o meu caminho de
volta para casa vai ser o mesmo: viagens pelo Leste Europau. As pessoas vão ver
uma guria carregando uma mala azul e minha mochila florida. Desta vez vou estar
vestindo meu casaco, uma vez que vai ser inverno. E o que eu aprendi com tudo
isso? Eu não preciso de mais do que 20 kg na mala e 10 kg na mochila!
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