... na rodoviária de Berlim!
É muito fácil começar a fazer
comparações entre países e diferentes culturas. Era meu sétimo dia na Europa e
ainda estava na Alemanha esperando um ônibus de Berlim para Varsóvia, na Polônia.
Nós, do terceiro mundo, costumamos enaltecer a cultura europeia. Muitas vezes
esquecemos que esse povo de primeiro mundo tão idolatrado costumava saquear as
colônias, retirar todas as riquezas do povo, mudar a cultura e a religião,
ocupar o território como sendo dos “conquistadores”. Estou a mais de 24h sem dormir e somente o
que me vem à cabeça é como é importante viajar para conhecer de perto outras
culturas antes de encher a boca e dizer que tudo fora do nosso país é
maravilhoso. Vou lhes dizer o porque pensei nisso hoje, reflexões que começaram
as 5h da manhã.
Ainda em Leipzig, cidade pequena e charmosa
perto de Halle (Saale), na Alemanha, eu comprei uma passagem para Berlim,
saindo às 18h da estação rodoviária. Além da cidade não ter uma rodoviária
estruturada, sendo que os ônibus estacionam a uma rua próxima da maior e mais
bonita estação de trem da Alemanha, o meu ônibus atrasou. Atrasou 1h. Isso
nunca aconteceu comigo no Brasil. Eu sei que já aconteceu com alguém, em
qualquer estado do Brasil, mas nunca comigo. Atraso de 20-30 minutos, OK, mas
1h não. Até aí tudo bem. Chegando em Berlim, tive o tempo de 1h de espera na
estação rodoviária (ZOB), para pegar meu próximo ônibus para Varsóvia...
chegando perto das 22h, o que acontece? O ônibus atrasou. Atrasou 8h. Não enviaram
outro, não pagaram transporte ou hotel, a orientação era simplesmente: esperar. O ônibus quebrou. Alemanha é
país de primeiro mundo e o que penso: essas coisas acontecem em qualquer lugar
e cada país lida de forma diferente.
É claro que estou indignada. Mas na
altura da minha vida, tudo vale como experiência. Não digo experiência no
sentido fazer as coisas diferentes. Mas de aceitar que essas coisas acontecem e
aprender a lidar com a frustração e a adaptar o roteiro da melhor maneira.
Carpe Diem, diriam os menos preocupados. Olha o que observei dentre os passageiros:
os com grana foram para um hotel. Já os que não têm grana, como eu, foram para
a salinha pequena da estação rodoviária. Dois ônibus atrasaram; o que somou
cerca de 50 pessoas que circularam e se acamparam nos bancos e no chão. A maioria
desse pessoal é jovem. Vejo também alguns velhinhos sentados desde 22h. Vi algumas
crianças, mas por algumas poucas horas esperando. Não existe idade; o que imagino
é a falta de recursos financeiros para pagar um taxi e pagar a meia noite em um
hotel, para apenas 5h de sono. Agora, a pergunta é: são todos pobres? Duvido.
Acredito que sejam pessoas que não se importam em ter uma noite mal dormida
para poder investir o dinheiro em outra coisa, outra atividade.
Mas também fica aqui a reflexão
sobre a diferença de comportamento. No Brasil eu nunca me sentiria segura ao
dormir numa estação de ônibus. Aqui eu me sinto. Não sei se é somente porque
tem tanta gente nas mesmas condições que eu, mas sei que é porque tem segurança
na rodoviária e conheço o histórico de criminalidade na Alemanha: mínima. O
povo aqui perto de mim se enrolou em cobertor, deitou no chão, sentou na cadeira
- e dormiu com o pescoço torto. Alguns privilegiados, como eu, conseguiram deitar
nos poucos bancos amarelos da estação. Bancos duros, com divisórias sutis, mas
incômodas. Assim foi minha única noite de sábado na Alemanha.
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